1. |
Rio de Lágrimas
05:48
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Compositores: Tião Carreiro, Piraci, Lourival dos Santos
O rio de Piracicaba
Vai jogar água pra fora
Quando chegar a água
Dos olhos de alguém que chora
Quando chegar a água
Dos olhos de alguém que chora
Lá no bairro aonde eu moro
Só existe uma nascente
A nascente dos meus olhos
Já formou água corrente
Pertinho da minha casa
Já formou uma lagoa
Com lágrimas dos meus olhos
Por causa de uma pessoa
Eu quero apanhar uma rosa
Minha mão já não alcança
Eu choro desesperado
Igualzinho uma criança
Duvido alguém quem não chore
Pela dor de uma saudade
Quero ver quem não chora
Quando ama de verdade
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2. |
Matita Perê
07:43
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Compositores: Tom Jobim, Paulo César Pinheiro
No jardim das rosas
De sonho e medo
Pelos canteiros de espinhos e flores
Lá, quero ver você
Olerê, Olará, você me pegar
Madrugada fria de estranho sonho
Acordou João, cachorro latia
João abriu a porta
O sonho existia
Que João fugisse
Que João partisse
Que João sumisse do mundo
De nem Deus achar, Ierê
Manhã noiteira de força viagem
Leva em dianteira um dia de vantagem
Folha de palmeira apaga a passagem
O chão, na palma da mão, o chão, o chão
E manhã redonda de pedras altas
Cruzou fronteira da servidão
Olerê, quero ver
Olerê
E por maus caminhos de toda sorte
Buscando a vida, encontrando a morte
Pela meia rosa do quadrante Norte
João, João
Um tal de Chico chamado Antônio
Num cavalo baio que era um burro velho
Que na barra fria já cruzado o rio
Lá vinha Matias cujo o nome é Pedro
Aliás Horácio, vulgo Simão
Lá um chamado Tião
Chamado João
Recebendo aviso entortou caminho
De Nor-Nordeste pra Norte-Norte
Na meia vida de adiadas mortes
Um estranho chamado João
No clarão das águas
No deserto negro
A perder mais nada
Corajoso medo
Lá quero ver você
Por sete caminhos de setenta sortes
Setecentas vidas e sete mil mortes
Esse um, João, João
E deu dia claro
E deu noite escura
E deu meia-noite no coração
Olerê, quero ver
Olerê
Passa sete serras
Passa cana brava
No brejo das almas
Tudo terminava
No caminho velho onde a lama trava
Lá no todo-fim-é-bom
Se acabou João
No Jardim das rosas
De sonho e medo
No clarão das águas
No deserto negro
Lá, quero ver você
Lerê, lará
Você me pegar
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3. |
Cosme
04:23
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Compositor: Douglas Germano
Cosme andava à toa,
cinza de garoa
e pra desvairar
dava de cantar
a dor de assum preto em pleno galicismo
Cosme é gente boa
e cinza de garoa
deita arlequinal,
sonha algodoal,
sangra e vira bruma em pleno galicismo
Há quem deixe a Cosme alguma dó
Há quem deixe apenas Cosme só
Há quem deixe Cosme agonizar
nos desertos desta América.
Paulicéia - a grande boca de mil dentes;
e os jorros dentre a língua trissulca
de pus e de mais pus de distinção...
Giram homens fracos, baixos, magros...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...
(fragmento do poema “O Cortejo”, de Mário de Andrade – Pauliceia Desvairada, 1922)
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4. |
Carta
03:58
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Compositor: Tom Zé
Eu preciso mandar notícia
pro coração do meu amor me cozinhar
pro coração do meu amor me refazer
me sonhar
me ninar
me comer
me cozinhar como um peru bem gordo
me cozinhar que nem anum-tesoura
um bezerro santo
uma nota triste
me cozinhar como um canário morto
me cozinhar como um garrote arrepiado
um pato den´d´água
um saqué polaca
eu escrevo minha carta num papel decente
quem se sente
quem se sente com saudade não economiza
nem à guisa
nem dor nem sofrimento que dirá papel
e o anel
o anel do pensamento vale um tesouro
é besouro
é besouro renitente cuja serventia
já batia
já batia na gaiola e no envelope
e no golpe
e no golpe da distância andei 200 léguas
minha égua
minha égua esquipava, o peito me doía
quando ia
Quando ia na lembrança vinha na saudade
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5. |
Um trem para as estrelas
05:12
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Compositores: Gilberto Gil, Cazuza
São sete horas da manhã
Vejo o Cristo, da janela
O sol apagou sua luz
E o povo lá embaixo espera
Nas filas dos pontos de ônibus
Procurando aonde ir
São todos seus cicerones
Correm pra não desistir
Dos seus salários de fome
É a esperança que eles têm
Nesse filme como extras
Todos querem se dar bem
Num trem pras estrelas
Depois dos navios negreiros
Outras correntezas
Meu nego
Estranho, teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Tem os braços sempre abertos
Mas sem proteger ninguém
Eu vou forrar as paredes
Do meu quarto de miséria
Com manchetes de jornal
Pra ver que não é nada sério
Eu vou dar o meu desprezo
Pra você que me ensinou
Que a tristeza é uma maneira
Da gente se salvar depois
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6. |
PADECIMENTO
04:52
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Ai a viola me conhece que eu não posso cantar só
Ai se eu sozinho canto bem junto eu canto melhor
Ai vai chegando o mês de agosto bem pertinho de setembro
Os passarinhos cantam alegres por ver as matas florescendo
Ai eu não sei o que será que já vai me entristecendo
Passando tantos trabalhos debaixo de chuva e sereno
Eu não como e não bebo nada, vivo triste padecendo
Ai pra um coração de quem ama o alívio é só morrendo ai, ai, ai
Ai quem já teve amor na vida e por desventura perdeu
Não deve se lastimar nem ficar triste como eu
Pois eu também já tive amor mas não me correspondeu
O desgosto no meu peito quis ser inquilino meu
Mas eu tenho esta viola que foi enviada por Deus
Ai que só me traz alegria e a tristeza rebateu ai, ai, ai
Ai a viola me acompanha desde os quinze anos de idade
Ela é minha companheira nas minhas contrariedades
Faço moda alegre e triste conforme a oportunidade
Esse dom de fazer moda não é querer e ter vontade
Tem muita gente que quer mas não tem facilidade
É um dom que Deus me deu pra desabafar saudade ai, ai, ai
Ai pra aprender cantar de viola primeiro estudo que eu tive
Aprendi com um violeiro velho que fazia moda impossível
Pois eu sou um violeiro novo mas também quero ser terrível
Faço modas de gente boa e de alguns incorrigíveis
Todas modas que eu invento ocupo régua, prumo e nível
Ai pensando bem um violeiro com prazer no mundo vive ai, ai, ai
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7. |
Desvão
05:34
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canto mais canto recanto
pra onde cê volta
celta, revolta, escanteio
rola trôpega pedra
remanso imensa mansidão
de rio de dadá foz
delírio, de letra decanto
é canto de novo, refrão
ou é desencanto, corrente alternada
não pia, impuro, feitiço desfeito
certa geometria desemparelhada
simples comissura, silêncio
na esfera do reino distante
a dobra da voz dinamite
abarca acalanto demente
é canto de novo, refrão
s
e aquele momento não é mais presente
então tal recanto já é desencanto
o canto de novo é refrão
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8. |
Marcha do homem bala
04:16
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Compositor: Douglas Germano
Não diga quem é você
pois hoje tudo é carnaval
Não diga quem é você
por trás da máscara é tudo tão igual
Palhaços, mascarados, sedutores, sonhadores
somos todos domadores de leão
Em rodopios somos alvo onde a vida atira facas
tragamos fogo, ferro, lava com cachaça pra cantar
Mascates, majestades, cafetinas, gigolôs
equilibristas sem a rede antes do chão
Um trapezista sem amor que exala cheiro de fernet
um homem-bala contra o muro com a platéia toda em pé
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9. |
Pra rua
05:31
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Compositores: Juliana Amaral, Douglas Germano
Ando mais pra rua
Que pra me guardar
Ando mais pra morte
Que ressuscitar
Ando mais pra rio
Que parar no mar
Ando mais pra ir
Que pra ver chegar
Mais pra ser o grito
Ser a carne viva
Que ser voz altiva
Do que vive morto
Mais pra rodopio
Que pra absorto
Mais pra vendaval
Do que pra ser porto
Mais pra ser o tiro
Ser o estilhaço
Que manter o passo
Que deixar-me preso
Mais pro arranhão
Que sair ileso
Mais pra flutuar
Que afundar de peso
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10. |
Brado aberto
06:15
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11. |
Léo
05:46
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Compositores: Milton Nascimento, Chico Buarque
Um pé na soleira e um pé na calçada
Um pião
Um passo na estrada e um pulo no mato
Um pedaço de pau
Um pé de sapato e um pé de moleque
Léo
Um pé de moleque e um rabo de saia
Um serão
As sombras da praia e o sonho na esteira
Uma alucinação
Uma companheira e um filho no mundo
Léo
Um filho no mundo e o mundo virado
Um irmão
Um livro, um recado, uma eterna viagem
A mala de mão
A cara, a coragem e um plano de voo
Léo
Um plano de voo e um segredo na boca
O ideal
Um bicho na toca e o perigo por perto
Uma pedra, um punhal
Um olho desperto e um olho vazado
Léo
Um olho vazado e um tempo de guerra
Um paiol
Um nome na serra e um nome no muro
A quebrada do sol
Um tiro no escuro e um corpo na lama
Léo
Um nome na lama e um silêncio profundo
Um pião
Um filho no mundo e uma atiradeira
Um pedaço de pau
Um pé na soleira e um pé na calçada
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12. |
Gases puro
05:36
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Compositores: Lincoln Antonio, Stela do Patrocínio
eu era gases puro, espaço vazio, tempo
e gases puro assim, eu era ar e tempo
eu não tinha formação
não tinha formatura
não tinha onde fazer cabeça
fazer braço, fazer corpo
fazer orelha, fazer nariz
céu da boca, falatório
fazer músculo, fazer dente
eu não tinha onde fazer nada dessas coisas
pensar em alguma coisa
ser útil, inteligente, ser raciocínio, fazer cabeça
não tinha onde tirar
eu era espaço vazio
eu não sei como que pode formar uma cabeça
um olho enxergando, nariz respirando
boca com dentes
orelha ouvindo vozes
pele, carne, ossos
altura, largura, força
pra ter força
o que é preciso fazer?
tomar vitamina
é preciso vitamina
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13. |
Vassalo do samba
03:37
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Compositor: Ataulfo Alves
Tentei fazer um samba
Diferente do que faço
Confesso, minha gente
Saí fora do compasso
Errei na divisão
Cheguei à conclusão
Que o samba não me quer
Moderno não
Meu samba protestou
Meu vexame foi total
Quem foi que me mandou
Sair do original
Meu samba, eu sei que errei
Pisei meu próprio calo
De vossa majestade
Eu sou vassalo...
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