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A​Ç​OITE (2016)

by juliana amaral

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1.
Compositores: Tião Carreiro, Piraci, Lourival dos Santos O rio de Piracicaba Vai jogar água pra fora Quando chegar a água Dos olhos de alguém que chora Quando chegar a água Dos olhos de alguém que chora Lá no bairro aonde eu moro Só existe uma nascente A nascente dos meus olhos Já formou água corrente Pertinho da minha casa Já formou uma lagoa Com lágrimas dos meus olhos Por causa de uma pessoa Eu quero apanhar uma rosa Minha mão já não alcança Eu choro desesperado Igualzinho uma criança Duvido alguém quem não chore Pela dor de uma saudade Quero ver quem não chora Quando ama de verdade
2.
Matita Perê 07:43
Compositores: Tom Jobim, Paulo César Pinheiro No jardim das rosas De sonho e medo Pelos canteiros de espinhos e flores Lá, quero ver você Olerê, Olará, você me pegar Madrugada fria de estranho sonho Acordou João, cachorro latia João abriu a porta O sonho existia Que João fugisse Que João partisse Que João sumisse do mundo De nem Deus achar, Ierê Manhã noiteira de força viagem Leva em dianteira um dia de vantagem Folha de palmeira apaga a passagem O chão, na palma da mão, o chão, o chão E manhã redonda de pedras altas Cruzou fronteira da servidão Olerê, quero ver Olerê E por maus caminhos de toda sorte Buscando a vida, encontrando a morte Pela meia rosa do quadrante Norte João, João Um tal de Chico chamado Antônio Num cavalo baio que era um burro velho Que na barra fria já cruzado o rio Lá vinha Matias cujo o nome é Pedro Aliás Horácio, vulgo Simão Lá um chamado Tião Chamado João Recebendo aviso entortou caminho De Nor-Nordeste pra Norte-Norte Na meia vida de adiadas mortes Um estranho chamado João No clarão das águas No deserto negro A perder mais nada Corajoso medo Lá quero ver você Por sete caminhos de setenta sortes Setecentas vidas e sete mil mortes Esse um, João, João E deu dia claro E deu noite escura E deu meia-noite no coração Olerê, quero ver Olerê Passa sete serras Passa cana brava No brejo das almas Tudo terminava No caminho velho onde a lama trava Lá no todo-fim-é-bom Se acabou João No Jardim das rosas De sonho e medo No clarão das águas No deserto negro Lá, quero ver você Lerê, lará Você me pegar
3.
Cosme 04:23
Compositor: Douglas Germano Cosme andava à toa, cinza de garoa e pra desvairar dava de cantar a dor de assum preto em pleno galicismo Cosme é gente boa e cinza de garoa deita arlequinal, sonha algodoal, sangra e vira bruma em pleno galicismo Há quem deixe a Cosme alguma dó Há quem deixe apenas Cosme só Há quem deixe Cosme agonizar nos desertos desta América. Paulicéia - a grande boca de mil dentes; e os jorros dentre a língua trissulca de pus e de mais pus de distinção... Giram homens fracos, baixos, magros... Serpentinas de entes frementes a se desenrolar... (fragmento do poema “O Cortejo”, de Mário de Andrade – Pauliceia Desvairada, 1922)
4.
Carta 03:58
Compositor: Tom Zé Eu preciso mandar notícia pro coração do meu amor me cozinhar pro coração do meu amor me refazer me sonhar me ninar me comer me cozinhar como um peru bem gordo me cozinhar que nem anum-tesoura um bezerro santo uma nota triste me cozinhar como um canário morto me cozinhar como um garrote arrepiado um pato den´d´água um saqué polaca eu escrevo minha carta num papel decente quem se sente quem se sente com saudade não economiza nem à guisa nem dor nem sofrimento que dirá papel e o anel o anel do pensamento vale um tesouro é besouro é besouro renitente cuja serventia já batia já batia na gaiola e no envelope e no golpe e no golpe da distância andei 200 léguas minha égua minha égua esquipava, o peito me doía quando ia Quando ia na lembrança vinha na saudade
5.
Compositores: Gilberto Gil, Cazuza São sete horas da manhã Vejo o Cristo, da janela O sol apagou sua luz E o povo lá embaixo espera Nas filas dos pontos de ônibus Procurando aonde ir São todos seus cicerones Correm pra não desistir Dos seus salários de fome É a esperança que eles têm Nesse filme como extras Todos querem se dar bem Num trem pras estrelas Depois dos navios negreiros Outras correntezas Meu nego Estranho, teu Cristo, Rio Que olha tão longe, além Tem os braços sempre abertos Mas sem proteger ninguém Eu vou forrar as paredes Do meu quarto de miséria Com manchetes de jornal Pra ver que não é nada sério Eu vou dar o meu desprezo Pra você que me ensinou Que a tristeza é uma maneira Da gente se salvar depois
6.
PADECIMENTO 04:52
Ai a viola me conhece que eu não posso cantar só Ai se eu sozinho canto bem junto eu canto melhor Ai vai chegando o mês de agosto bem pertinho de setembro Os passarinhos cantam alegres por ver as matas florescendo Ai eu não sei o que será que já vai me entristecendo Passando tantos trabalhos debaixo de chuva e sereno Eu não como e não bebo nada, vivo triste padecendo Ai pra um coração de quem ama o alívio é só morrendo ai, ai, ai Ai quem já teve amor na vida e por desventura perdeu Não deve se lastimar nem ficar triste como eu Pois eu também já tive amor mas não me correspondeu O desgosto no meu peito quis ser inquilino meu Mas eu tenho esta viola que foi enviada por Deus Ai que só me traz alegria e a tristeza rebateu ai, ai, ai Ai a viola me acompanha desde os quinze anos de idade Ela é minha companheira nas minhas contrariedades Faço moda alegre e triste conforme a oportunidade Esse dom de fazer moda não é querer e ter vontade Tem muita gente que quer mas não tem facilidade É um dom que Deus me deu pra desabafar saudade ai, ai, ai Ai pra aprender cantar de viola primeiro estudo que eu tive Aprendi com um violeiro velho que fazia moda impossível Pois eu sou um violeiro novo mas também quero ser terrível Faço modas de gente boa e de alguns incorrigíveis Todas modas que eu invento ocupo régua, prumo e nível Ai pensando bem um violeiro com prazer no mundo vive ai, ai, ai
7.
Desvão 05:34
canto mais canto recanto
 pra onde cê volta 
celta, revolta, escanteio
 rola trôpega pedra
 remanso imensa mansidão
 de rio de dadá foz
 delírio, de letra decanto

 é canto de novo, refrão 

ou é desencanto, corrente alternada 
não pia, impuro, feitiço desfeito
 certa geometria desemparelhada
 simples comissura, silêncio
 na esfera do reino distante 
a dobra da voz dinamite
 abarca acalanto demente 

é canto de novo, refrão

s e aquele momento não é mais presente
 então tal recanto já é desencanto 
o canto de novo é refrão
8.
Compositor: Douglas Germano Não diga quem é você pois hoje tudo é carnaval Não diga quem é você por trás da máscara é tudo tão igual Palhaços, mascarados, sedutores, sonhadores somos todos domadores de leão Em rodopios somos alvo onde a vida atira facas tragamos fogo, ferro, lava com cachaça pra cantar Mascates, majestades, cafetinas, gigolôs equilibristas sem a rede antes do chão Um trapezista sem amor que exala cheiro de fernet um homem-bala contra o muro com a platéia toda em pé
9.
Pra rua 05:31
Compositores: Juliana Amaral, Douglas Germano Ando mais pra rua Que pra me guardar Ando mais pra morte Que ressuscitar Ando mais pra rio Que parar no mar Ando mais pra ir Que pra ver chegar Mais pra ser o grito Ser a carne viva Que ser voz altiva Do que vive morto Mais pra rodopio Que pra absorto Mais pra vendaval Do que pra ser porto Mais pra ser o tiro Ser o estilhaço Que manter o passo Que deixar-me preso Mais pro arranhão Que sair ileso Mais pra flutuar Que afundar de peso
10.
Brado aberto 06:15
11.
Léo 05:46
Compositores: Milton Nascimento, Chico Buarque Um pé na soleira e um pé na calçada
 Um pião 
Um passo na estrada e um pulo no mato 
Um pedaço de pau 
Um pé de sapato e um pé de moleque
 Léo 

Um pé de moleque e um rabo de saia 
Um serão 
As sombras da praia e o sonho na esteira 
Uma alucinação
 Uma companheira e um filho no mundo 
Léo 

Um filho no mundo e o mundo virado 
Um irmão 
Um livro, um recado, uma eterna viagem 
A mala de mão 
A cara, a coragem e um plano de voo 
Léo 

Um plano de voo e um segredo na boca 
O ideal 
Um bicho na toca e o perigo por perto 
Uma pedra, um punhal
 Um olho desperto e um olho vazado 
Léo 

Um olho vazado e um tempo de guerra 
Um paiol 
Um nome na serra e um nome no muro 
A quebrada do sol 
Um tiro no escuro e um corpo na lama 
Léo 

Um nome na lama e um silêncio profundo 
Um pião 
Um filho no mundo e uma atiradeira
 Um pedaço de pau 
Um pé na soleira e um pé na calçada
12.
Gases puro 05:36
Compositores: Lincoln Antonio, Stela do Patrocínio eu era gases puro, espaço vazio, tempo e gases puro assim, eu era ar e tempo eu não tinha formação não tinha formatura não tinha onde fazer cabeça fazer braço, fazer corpo fazer orelha, fazer nariz céu da boca, falatório fazer músculo, fazer dente eu não tinha onde fazer nada dessas coisas pensar em alguma coisa ser útil, inteligente, ser raciocínio, fazer cabeça não tinha onde tirar eu era espaço vazio eu não sei como que pode formar uma cabeça um olho enxergando, nariz respirando boca com dentes orelha ouvindo vozes pele, carne, ossos altura, largura, força pra ter força o que é preciso fazer? tomar vitamina é preciso vitamina
13.
Compositor: Ataulfo Alves Tentei fazer um samba Diferente do que faço Confesso, minha gente Saí fora do compasso Errei na divisão Cheguei à conclusão Que o samba não me quer Moderno não Meu samba protestou Meu vexame foi total Quem foi que me mandou Sair do original Meu samba, eu sei que errei Pisei meu próprio calo De vossa majestade Eu sou vassalo...

credits

released May 12, 2016

JULIANA AMARAL e HUMBERTO PIO direção artística
JOÃO PAULO AMARAL arranjos, direção musical

JULIANA AMARAL voz
JOÃO PAULO AMARAL viola caipira, violão, guitarra, voz
GUSTAVO BUGNI teclados
ALBERTO LUCCAS contrabaixo acústico
RODRIGO DIGÃO BRAZ bateria

gravado ao vivo nos dias 20, 21, 22 de janeiro e 5 de março de 2016
MARCELO CECCHI, JOSÉ BICHOFF e RICARDO DOMINGUES engenheiros de gravação
MARCELO CECCHI e JOÃO PAULO AMARAL edição, mixagem
MARCELO CECCHI masterização
estúdio Síncopa Sound Specialist, Campinas, SP

HUMBERTO PIO direção de arte
ESTÚDIO RISCO projeto gráfico
MARCELO DACOSTA fotos
ANA LUIZA revisão de texto

uma realização Circus Produções
GUTO RUOCCO coordenação de produção
CRISTINA MALULI e SANDRA LACERDA produção executiva
www.circusproducoes.com.br

(p) 2016

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juliana amaral São Paulo, Brazil

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