1. |
Mínima
02:57
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no mínimo samba entre compasso
difícil não fazer este cabaço
vislumbra neste tom esse som fácil
cavalo-de-pau rompendo laço
veloz força-motriz queda-de-braço
cadência bissetriz rebenta o baço
no mínimo samba eu nem disfarço
se tombo é cicatriz engrosso o traço
verdade se desnuda um erro crasso
rubor fingido assim desembaraço
razão de ser atriz matiz rosáceo
papel de meretriz prazer cagaço
no menino nu
mínimo samba
no menino nu
mínimo samba
no menino samba nuvem cacho
quadris anis e giz cachaça inchaço
a língua lisa ali até o chumaço
sorri implora please beiço e bagaço
perspicaz pisa pé encalço falso
come-se pede bis colossal racho
no meio da meada ainda me acho
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2. |
Olhos da cara
01:11
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Pago os olhos da cara
pela tua boca.
Fiquei sem saber
o que era corpo
e o que era céu.
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3. |
Samba Erudito
01:50
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Andei sobre as águas
Como São Pedro
Como Santos Dumont
Fui aos ares sem medo
Fui ao fundo do mar
Como o velho Picard
Só pra me exibir
Só pra te impressionar
Fiz uma poesia
Como Olavo Bilac
Soltei filipeta
Pra te dar um Cadillac
Mas você nem ligou
Para tanta proeza
Põe um preço tão alto
Na sua beleza
E então, como Churchill
Eu tentei outra vez
Você foi demais
Pra paciência do inglês
Aí, me curvei
Ante a força dos fatos
Lavei minhas mãos
Como Pôncio Pilatos
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4. |
Mistura
00:51
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Da conversa no almoço
Na quarta-feira passada
Saí vinte quilos mais pesada
Cinco quilos de lembranças
Cinco de pendências
Cinco quilos de amor
Cinco de rancor
E ainda um quilo do PF
De bisteca, arroz e feijão
Que comi na ocasião
Ai ai ai
Que difícil digestão
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5. |
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Não adianta tentar segurar o choro
Conter, calar, guardar, deixar estar pra sempre
O fim do pôr-do-sol, um par de olhos vermelhos
Pesar o coração que sente
Cantar baixinho soluçando de joelhos
Não adianta tentar segurar o choro
Brecar o fim de um filme, o fim de um namoro
O amor será mais belo ao se mostrar finito
Vem cá chorar cantando
Depois da noite o dia voltou mais bonito
Não adianta tentar segurar o choro
Vazio, avesso, ateu, tambor sem nada dentro
Apenas nada mais que só um instrumento
Ecoa no salão imenso
O uivo de um navio apita o seu lamento
Não adianta tentar segurar o choro
Tudo o que se sente é santo
Tudo quanto é sopro é bento
Não adianta tentar segurar o choro
Canta em minha flauta o vento
Dor de tudo quanto é peito
Não adianta tentar segurar o choro
Vem de tudo quanto é jeito
Samba em tudo quanto é canto
Tanto mais o desencanto
Mais ele será perfeito
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6. |
Palhaçada
03:39
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Vi o palhaço de mo-
Lá no farol da Paulista
Tinha na mão a chupe-
Tava chorando na pista
Um suspensório, um sapa-
Todo molambo em folia
Gente de terno ou vesti-
Do riso falso saia
Quem percebia o mala-
Com maquiagem de fome
Nem esperava a pia-
Dava moeda pro homem
Era um mendigo beiço-
Lá no farol da Paulista
Tinha no olho a gorje-
Tava chorando na pista
Um suspensório, um sapa-
Todo bobão de anemia
Gente de terno ou vesti-
Do cambaleio sorria
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7. |
Encontro
01:02
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Naquele momento os dois se olharam
Ele pensou em sexo
Ela pensou que seria assaltada
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8. |
Bala perdida
04:11
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Essas luzes brilhando na escuridão, o que são?
Desenhando no céu uma cruz, uma constelação?
Essa bala perdida na multidão
Procurando ferir o coração
Essas luzes no céu, essa carta de navegação?
Esses barcos de papel, esses rastros no chão?
Quem aponta e acena, de quem são essas mãos?
Que afagam às cegas a solidão
Ai, isso ainda me mata
Ai, essa chuva de prata
Entre o fogo cruzado
Raios de luar
Essas brasas acesas
No teu olhar
Esse curto estampido
Essa surda batida
Trajetória, percurso da vida
São as cordas partidas
Do meu violão
Procurando por uma canção
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9. |
Salve Fabrício
03:32
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Salve Fabrício
Chegou na cautela
E a dona Marina
Como é que tá ela?
Ó seu Fabrício
Não sei da novela
Pergunta do Miro
No bar da favela
Vim de lá umas 20 pras 3
Tava ele, o Geraldo e o Adão
Não sei mais quem...
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10. |
Tarde demais
00:55
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Dois corpo despencando da beirada da janela
Ela matou ele, ele matou ela
É panela que cai
A TV também cai
Eles despencaram da janela
Agora se amam
Mas é tarde demais
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11. |
Um salto
05:14
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Cada vez que o mundo pesa
Vem abaixo
Desapruma
Mas a roda
Não pára
Toma fôlego
Revira
Revolta
Hoje estou por cima
Os astros olham pra mim
E aproveitando essa subida
Te pego nos braços
Respiro
Vamos
Pro alto
Um salto
Um sonho
Sem pensar na hora
Da queda
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12. |
Ferida do tempo
06:55
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Tem dias que se enluara
Tem tarde que venta a morte
Tem vida perdida em corte
Rastejo nessa seara
Ventania igual rastilho
De pólvora sobre o chão
Meus dentes de cão no trilho
Contradizem pai e pão
O vão entre a foice e o pulso
Ferida do tempo, escombro
Faz sangue escorrer convulso
Da cabeça até o ombro
Na mesa de um bar o copo
É corpo que se entrevara
E há tanto que é muito pouco
Em horas que se Guevara
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13. |
Canta
02:06
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O teu pranto me faz confusão
E por isso eu fiz essa canção
Depois de uma grande falsidade
Terei que dizer que sinto muita saudade
Canta, meu bem, canta
Quero ouvir o teu cantar
Chora, meu bem, chora
Quero ver a tua lágrima derramar
Sofre porque foste a culpada
Apele para a justiça do meu coração
Talvez não sejas condenada
No tribunal do meu coração
Vou pedir tua absolvição
Nossa vida foi uma quimera
Se voltares hás de ser muito sincera
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14. |
Acabou chorare
03:41
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Acabou chorare
Ficou tudo lindo
De manhã cedinho
Tudo cá cá cá na fé fé fé
No bu bu li li
No bu bu li lindo
No bu bu bulindo
Talvez pelo buraquinho, invadiu-me a casa, me acordou na cama
Tomou o meu coração e sentou na minha mão
Abelha, abelhinha
Acabou chorare
Faz zunzum pra eu ver
Faz zunzum pra mim
Abelho, abelhinho
Escondido faz bonito
Faz zunzum e mel
Inda de lambuja tem o carneirinho, presente na boca
Acordando toda gente, tão suave mé, que suavemente
Abelha, carneirinho
Acabou chorare
No meio do mundo
Respirei eu fundo
Foi-se tudo pra escanteio
Vi o sapo na lagoa, entre nessa que é boa
Fiz zunzum e pronto
Fiz zunzum
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15. |
"sossegue coração..."
00:14
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sossegue coração
ainda não é agora
a confusão prossegue
sonhos afora
calma, calma
logo mais
a gente goza
perto do osso
a carne é mais gostosa
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16. |
Leonor
04:05
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Devagar com esse andor Leonor
Casamento é muito caro
Sou compositor, cantor, também sou autor
Falo mais de flor que dor, Leonor
Mas não sou Roberto Carlos
Não tenho carro de boi, Leonor
Nem outro tipo de carro
Meu cachê é um horror, Leonor
Não sobra nem pro cigarro
Não tenho nem gravador, Leonor
Meu São Benedito é de barro
Meu menu é feijão com arroz
Que divido com mais dois, Leonor
Quando não falta trabalho
Viver somente de amor, Leonor
É tão lindo quanto precário
Tem que morar de favor, Leonor
Lá no bairro do Calvário
O que eu tinha de valor, Leonor
Dois gatos, três agasalhos
Cachecol de lã gibis do Tarzan
Gibis de terror, cobertor
Quatro jogos de baralho
Um macacão furta-cor, Leonor
Uma colcha de retalhos
O que não está no penhor, Leonor
Foi pra casa do Carvalho
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17. |
Brigitte Bardot
03:30
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A Brigitte Bardot está ficando velha
Envelheceu antes dos nossos sonhos
Coitada da Brigitte Bardot, que era uma moça bonita
Mas ela mesma não podia ser um sonho
Para nunca envelhecer
A Brigitte Bardot está se desmanchando
E os nossos sonhos querem pedir divórcio
Pelo mundo inteiro, milhões e milhões de sonhos
Que querem também pedir divórcio
E a Brigitte Bardot agora está ficando triste e
sozinha
Será que algum rapaz de vinte anos vai telefonar
Na hora exata em que ela estiver com vontade de se suicidar?
Quando a gente era pequeno, pensava que quando crescesse
Ia ser namorado da Brigitte Bardot
Mas a Brigitte Bardot está ficando triste e sozinha
A Brigitte Bardot agora está ficando velha, triste e sozinha
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18. |
Cartilha da cura
00:09
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As mulheres e as crianças
São as primeiras que desistem de afundar navios
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19. |
São Mateus
03:07
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Miro hesitou, perdeu a fé
E no contra-pé ganhou a mão
Mas moleque Miro foi ao chão
Quando reclamou o samburá
Teve samba no seu gurufim
Tamborim serviu de castiçal
Mal de quem tirou a vida assim
De um menino bom, rival, e
Se compadeceu Geraldo são
Louco, Adão subiu sem compaixão
Mãe do Adão não tem o que chorar
É o terceiro filho pra rezar
Teve rap no seu funeral
Sopa e licor de amendoim
Bem de quem não tem o seu rival
Num menino do jardim colonial
O Zé da Silva, o Saruê
o Daniel, o filho do Osmar
Alguém no céu, o Gil tá pra rodar
Há muito fel, há muito fel no ar
O Zé da Silva, o seu Benê
o Gabriel, o Jé da Dinorah
Alguém no céu, o Gil tá pra rodar
Há muito fel, não dá pra respirar
E essa prosa não pára aqui
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20. |
O mistério do samba
02:11
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O samba não é carioca
O samba não é baiano
O samba não é do terreiro
O samba não é africano
O samba não é da colina
O samba não é do salão
O samba não é da avenida
O samba não é carnaval
O samba não é da tv
O samba não é do quintal
Como reza toda tradição
É tudo uma grande invenção
O samba não é emergente
O samba não é da escola
O samba não é fantasia
O samba não é racional
O samba não é da cerveja
O samba não é da mulata
O samba não é playboy
O samba não é liberal
O samba não é chorinho
O samba não é regional
Como reza toda tradição
É tudo uma grande invenção
Não tem mistério
Não é do bicheiro
Não é do malandro
Não é canarinho
Não é verde e rosa
O samba não é aquarela
O samba não é bossa nova
O samba não é silicone
O samba não é malhação
O samba não é do Gugu
O samba não é Faustão
Como reza toda tradição
É tudo uma grande invenção
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21. |
Ilumina
02:49
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Ilumina, ilumina
Ilumina, senhora divina, ilumina
Eu tenho tanta estrada em meu caminho
E muitas ilusões pra tropeçar
Quem segue a tua luz não vai sozinho
Tem sempre uma estrela pra guiar
Transforma minha voz na voz do vento
Que eu levo no meu canto o sentimento de cantar
Retira dos olhos de Deus este brilho divino
Para o meu destino iluminar
Ilumina
Ilumina a escuridão, ilumina
Ilumina quem trás o perdão, ilumina
Ilumina quem trata da flor
Ilumina quem me iluminou
Iluminado seja o amor
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