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SM, XLS (2012)

by juliana amaral

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1.
Mínima 02:57
no mínimo samba entre compasso difícil não fazer este cabaço vislumbra neste tom esse som fácil cavalo-de-pau rompendo laço veloz força-motriz queda-de-braço cadência bissetriz rebenta o baço no mínimo samba eu nem disfarço se tombo é cicatriz engrosso o traço verdade se desnuda um erro crasso rubor fingido assim desembaraço razão de ser atriz matiz rosáceo papel de meretriz prazer cagaço no menino nu mínimo samba no menino nu mínimo samba no menino samba nuvem cacho quadris anis e giz cachaça inchaço a língua lisa ali até o chumaço sorri implora please beiço e bagaço perspicaz pisa pé encalço falso come-se pede bis colossal racho no meio da meada ainda me acho
2.
Pago os olhos da cara pela tua boca. Fiquei sem saber o que era corpo e o que era céu.
3.
Andei sobre as águas Como São Pedro Como Santos Dumont Fui aos ares sem medo Fui ao fundo do mar Como o velho Picard Só pra me exibir Só pra te impressionar Fiz uma poesia Como Olavo Bilac Soltei filipeta Pra te dar um Cadillac Mas você nem ligou Para tanta proeza Põe um preço tão alto Na sua beleza E então, como Churchill Eu tentei outra vez Você foi demais Pra paciência do inglês Aí, me curvei Ante a força dos fatos Lavei minhas mãos Como Pôncio Pilatos
4.
Mistura 00:51
Da conversa no almoço Na quarta-feira passada Saí vinte quilos mais pesada Cinco quilos de lembranças Cinco de pendências Cinco quilos de amor Cinco de rancor E ainda um quilo do PF De bisteca, arroz e feijão Que comi na ocasião Ai ai ai Que difícil digestão
5.
Não adianta tentar segurar o choro Conter, calar, guardar, deixar estar pra sempre O fim do pôr-do-sol, um par de olhos vermelhos Pesar o coração que sente Cantar baixinho soluçando de joelhos Não adianta tentar segurar o choro Brecar o fim de um filme, o fim de um namoro O amor será mais belo ao se mostrar finito Vem cá chorar cantando Depois da noite o dia voltou mais bonito Não adianta tentar segurar o choro Vazio, avesso, ateu, tambor sem nada dentro Apenas nada mais que só um instrumento Ecoa no salão imenso O uivo de um navio apita o seu lamento Não adianta tentar segurar o choro Tudo o que se sente é santo Tudo quanto é sopro é bento Não adianta tentar segurar o choro Canta em minha flauta o vento Dor de tudo quanto é peito Não adianta tentar segurar o choro Vem de tudo quanto é jeito Samba em tudo quanto é canto Tanto mais o desencanto Mais ele será perfeito
6.
Palhaçada 03:39
Vi o palhaço de mo- Lá no farol da Paulista Tinha na mão a chupe- Tava chorando na pista Um suspensório, um sapa- Todo molambo em folia Gente de terno ou vesti- Do riso falso saia Quem percebia o mala- Com maquiagem de fome Nem esperava a pia- Dava moeda pro homem Era um mendigo beiço- Lá no farol da Paulista Tinha no olho a gorje- Tava chorando na pista Um suspensório, um sapa- Todo bobão de anemia Gente de terno ou vesti- Do cambaleio sorria
7.
Encontro 01:02
Naquele momento os dois se olharam Ele pensou em sexo Ela pensou que seria assaltada
8.
Bala perdida 04:11
Essas luzes brilhando na escuridão, o que são? Desenhando no céu uma cruz, uma constelação? Essa bala perdida na multidão Procurando ferir o coração Essas luzes no céu, essa carta de navegação? Esses barcos de papel, esses rastros no chão? Quem aponta e acena, de quem são essas mãos? Que afagam às cegas a solidão Ai, isso ainda me mata Ai, essa chuva de prata Entre o fogo cruzado Raios de luar Essas brasas acesas No teu olhar Esse curto estampido Essa surda batida Trajetória, percurso da vida São as cordas partidas Do meu violão Procurando por uma canção
9.
Salve Fabrício Chegou na cautela E a dona Marina Como é que tá ela? Ó seu Fabrício Não sei da novela Pergunta do Miro No bar da favela Vim de lá umas 20 pras 3 Tava ele, o Geraldo e o Adão Não sei mais quem...
10.
Tarde demais 00:55
Dois corpo despencando da beirada da janela Ela matou ele, ele matou ela É panela que cai A TV também cai Eles despencaram da janela Agora se amam Mas é tarde demais
11.
Um salto 05:14
Cada vez que o mundo pesa Vem abaixo Desapruma Mas a roda Não pára Toma fôlego Revira Revolta Hoje estou por cima Os astros olham pra mim E aproveitando essa subida Te pego nos braços Respiro Vamos Pro alto Um salto Um sonho Sem pensar na hora Da queda
12.
Tem dias que se enluara Tem tarde que venta a morte Tem vida perdida em corte Rastejo nessa seara Ventania igual rastilho De pólvora sobre o chão Meus dentes de cão no trilho Contradizem pai e pão O vão entre a foice e o pulso Ferida do tempo, escombro Faz sangue escorrer convulso Da cabeça até o ombro Na mesa de um bar o copo É corpo que se entrevara E há tanto que é muito pouco Em horas que se Guevara
13.
Canta 02:06
O teu pranto me faz confusão E por isso eu fiz essa canção Depois de uma grande falsidade Terei que dizer que sinto muita saudade Canta, meu bem, canta Quero ouvir o teu cantar Chora, meu bem, chora Quero ver a tua lágrima derramar Sofre porque foste a culpada Apele para a justiça do meu coração Talvez não sejas condenada No tribunal do meu coração Vou pedir tua absolvição Nossa vida foi uma quimera Se voltares hás de ser muito sincera
14.
Acabou chorare Ficou tudo lindo De manhã cedinho Tudo cá cá cá na fé fé fé No bu bu li li No bu bu li lindo No bu bu bulindo Talvez pelo buraquinho, invadiu-me a casa, me acordou na cama Tomou o meu coração e sentou na minha mão Abelha, abelhinha Acabou chorare Faz zunzum pra eu ver Faz zunzum pra mim Abelho, abelhinho Escondido faz bonito Faz zunzum e mel Inda de lambuja tem o carneirinho, presente na boca Acordando toda gente, tão suave mé, que suavemente Abelha, carneirinho Acabou chorare No meio do mundo Respirei eu fundo Foi-se tudo pra escanteio Vi o sapo na lagoa, entre nessa que é boa Fiz zunzum e pronto Fiz zunzum
15.
sossegue coração ainda não é agora a confusão prossegue sonhos afora calma, calma logo mais a gente goza perto do osso a carne é mais gostosa
16.
Leonor 04:05
Devagar com esse andor Leonor Casamento é muito caro Sou compositor, cantor, também sou autor Falo mais de flor que dor, Leonor Mas não sou Roberto Carlos Não tenho carro de boi, Leonor Nem outro tipo de carro Meu cachê é um horror, Leonor Não sobra nem pro cigarro Não tenho nem gravador, Leonor Meu São Benedito é de barro Meu menu é feijão com arroz Que divido com mais dois, Leonor Quando não falta trabalho Viver somente de amor, Leonor É tão lindo quanto precário Tem que morar de favor, Leonor Lá no bairro do Calvário O que eu tinha de valor, Leonor Dois gatos, três agasalhos Cachecol de lã gibis do Tarzan Gibis de terror, cobertor Quatro jogos de baralho Um macacão furta-cor, Leonor Uma colcha de retalhos O que não está no penhor, Leonor Foi pra casa do Carvalho
17.
A Brigitte Bardot está ficando velha Envelheceu antes dos nossos sonhos Coitada da Brigitte Bardot, que era uma moça bonita Mas ela mesma não podia ser um sonho Para nunca envelhecer A Brigitte Bardot está se desmanchando E os nossos sonhos querem pedir divórcio Pelo mundo inteiro, milhões e milhões de sonhos Que querem também pedir divórcio E a Brigitte Bardot agora está ficando triste e sozinha Será que algum rapaz de vinte anos vai telefonar Na hora exata em que ela estiver com vontade de se suicidar? Quando a gente era pequeno, pensava que quando crescesse Ia ser namorado da Brigitte Bardot Mas a Brigitte Bardot está ficando triste e sozinha A Brigitte Bardot agora está ficando velha, triste e sozinha
18.
As mulheres e as crianças São as primeiras que desistem de afundar navios
19.
São Mateus 03:07
Miro hesitou, perdeu a fé E no contra-pé ganhou a mão Mas moleque Miro foi ao chão Quando reclamou o samburá Teve samba no seu gurufim Tamborim serviu de castiçal Mal de quem tirou a vida assim De um menino bom, rival, e Se compadeceu Geraldo são Louco, Adão subiu sem compaixão Mãe do Adão não tem o que chorar É o terceiro filho pra rezar Teve rap no seu funeral Sopa e licor de amendoim Bem de quem não tem o seu rival Num menino do jardim colonial O Zé da Silva, o Saruê o Daniel, o filho do Osmar Alguém no céu, o Gil tá pra rodar Há muito fel, há muito fel no ar O Zé da Silva, o seu Benê o Gabriel, o Jé da Dinorah Alguém no céu, o Gil tá pra rodar Há muito fel, não dá pra respirar E essa prosa não pára aqui
20.
O samba não é carioca O samba não é baiano O samba não é do terreiro O samba não é africano O samba não é da colina O samba não é do salão O samba não é da avenida O samba não é carnaval O samba não é da tv O samba não é do quintal Como reza toda tradição É tudo uma grande invenção O samba não é emergente O samba não é da escola O samba não é fantasia O samba não é racional O samba não é da cerveja O samba não é da mulata O samba não é playboy O samba não é liberal O samba não é chorinho O samba não é regional Como reza toda tradição É tudo uma grande invenção Não tem mistério Não é do bicheiro Não é do malandro Não é canarinho Não é verde e rosa O samba não é aquarela O samba não é bossa nova O samba não é silicone O samba não é malhação O samba não é do Gugu O samba não é Faustão Como reza toda tradição É tudo uma grande invenção
21.
Ilumina 02:49
Ilumina, ilumina Ilumina, senhora divina, ilumina Eu tenho tanta estrada em meu caminho E muitas ilusões pra tropeçar Quem segue a tua luz não vai sozinho Tem sempre uma estrela pra guiar Transforma minha voz na voz do vento Que eu levo no meu canto o sentimento de cantar Retira dos olhos de Deus este brilho divino Para o meu destino iluminar Ilumina Ilumina a escuridão, ilumina Ilumina quem trás o perdão, ilumina Ilumina quem trata da flor Ilumina quem me iluminou Iluminado seja o amor

about

SM, XLS | samba mínimo, extra luxo super

O projeto “SM, XLS - samba mínimo, extra luxo super” se baseia na pesquisa de Juliana Amaral que tem como mote o samba, tomado não só como um repertório ou um ritmo, mas como um conjunto de conteúdos musicais e literários capaz de traduzir inquietações e tensões estéticas e artísticas mais profundas e amplas. Diferentemente de grande parte dos intérpretes que recentemente têm se debruçado sobre o repertório do samba, o trabalho musical de Juliana Amaral não se estrutura como uma sucessão de canções, mas como uma unidade poética, que integra música, palavra e gesto para descrever um movimento com intensidade no tempo.

Juliana Amaral montou em 2008 o espetáculo SAMBA MÍNIMO. Apresentado em pequenos teatros, com estrutura cênica mínima, trazia sambas de autores de diferentes gerações e universos musicais (Wilson Baptista, Noca da Portela, Moacyr Luz, Aldir Blanc, Roberto Mendes, Tom Zé, Itamar Assumpção, Moraes Moreira, Fred Zero Quatro) intercalados pela leitura de poemas (Bertolt Brecht, Paulo Leminski e Ana Cristina César). O repertório, os arranjos simples, a formação tradicional diminuta (violão e percussão) e as sutis soluções cênicas resultaram numa performance emocionada, convidando olhos e ouvidos a se aproximarem das canções e do modo de cantar.

O CD SM, XLS é conseqüência desta experiência musical e cênica, levada agora ao extremo: um trecho do show original SAMBA MÍNIMO soma-se a um bloco de sambas inéditos e vinhetas, em que a voz é acompanhada de apenas um instrumento. Sem uma estrutura narrativa explícita, o disco aborda questões do mundo urbano e contemporâneo – amor, desamor, solidão, violência, delicadeza, alegria, tristeza, presença, abandono – tratadas de diferentes modos, ora com doçura, ora com bruteza. A combinação de sambas, poemas e vinhetas revela um fio condutor, não literal mas poético, que permeia e dá sentido a todo o CD. E que desvela, na sua unidade, as tensões fundamentais entre sofisticação e simplicidade, tristeza e alegria, universal e particular, presentes de modo arrebatador no samba.

credits

released August 23, 2012

direção artística: Juliana Amaral e Humberto Pio
produção executiva: Guto Ruocco | CIRCUS Produções Culturais
assistente de produção: Sandra Lacerda
direção musical: Juliana Amaral
arranjos das faixas 1, 5, 7, 14, 15, 17, 18 e 21: Gian Corrêa
gravação: Luiz Leme
mixagem: Luiz Leme e Juliana Amaral
masterização: Luiz Leme - estúdio Audiomotion
projeto gráfico: Juliana Amaral e Humberto Pio | Estúdio Risco
foto: Marcelo Dacosta | Estúdio Risco
gravado em tempo real no NaCena Estúdios, São Paulo, em 23, 24 e 25 de janeiro de 2012

realização: Selo Sesc SP
[p] 2012

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